Padre Cicero

Padre Cicero
Tela de Vilma Maciel

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

COLUNA VILMA MACIEL
INFORMAÇÃO-CULTURA-MEMÓRIA.
TERIA LAMPIÃO VINDO A JUAZEIRO ANTES DE 1926?
RAZÃO PELA QUAL O PADRE CÍCERO FOI ACUSADO DE PROTETOR DE CANGACEIROS.
            Padre Cícero Romão Baptista sabia que a questão do banditismo no Nordeste era um problema de alto cunho social e econômico, oriundo do sistema político-administrativo,(coronelismo) que durante décadas infelicitou os sertões nordestinos alimentando insídias políticas sociais e religiosas responsáveis por tanta desgraça e miséria.
            Época de juízes venais e chefes políticos,coronéis de (rabo preso,) ancorados na efervescência das oligarquias que dominavam os sertões: Havia deturpadores da religião, policiais de atitudes e abusos vergonho-
sos, criminosos sob a proteção dos chefes políticos coronéis e fazendeiros, padres ameaçando os pobres sertanejos com castigos,"nas profundezas do inferno" se não obedececem os dogmas da igreja, enfim,, alegações essas, que apavorava o povo, em sua maioria analfabetos, sem assistência médica, e desamparados à própria sorte.
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            O Padre Cícero via em tudo isso, um pedido de socorro. Sentia dó e o dever de ajudar. Não negava seu apoio e conselhos a ninguém.: Criminosos, prostitutas, endemoniados,cangaceiros, doente, pobres,ricos e pessoas de fé. Para ele não havia distinção. Eis aí a razão pela qual era chamado de protetor de cangaceiros.
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            No livro do meu saudoso amigo escritor, memorialista, e testemunho ocular de fatos da época:Padre Cícero e Juazeiro, página 91,há uma citação que despertou-me essa dúvida, mesmo que a consideramos absurda por falta de registros ou provas.
            Teria Lampião visitado o Juazeiro antes de(março de 1926?) Vejamos o que diz:
            "José Geraldo da Cruz, com quem muito troquei ideias sobre o Padre Cícero Romão Baptista e Juazeiro do Norte, era na sua época, um chefe político no Cariri. Homem de maior valor e conceito. Durante alguns anos, o farmacêutico José Geraldo exerceu a função de secretário do Padre Cícero. Foi também, mais de uma vez, prefeito municipal de Juazeiro do Norte.
            Contou-nos aquele famoso líder juazeirense, o seguinte:"
            "Certo dia, em 1923, ao entrar na casa do padre Cícero, viu três   homens ajoelhado aos pés do sacerdote. O padre os abençoava pronunciando uma prece.Entregou-os à Nossa Senhora das Dores.
            Um desses homens era bem moreno alto e bastante magro.O homem magro havia alegado que estavam todos cansados da vida agitada que levavam, impulsionados que foram por consequências especiais, forçados a abraçar aquela desdita. Disseram eles que vinham sendo perseguidos pelas polícias de três estados e que não queriam se sujeitar mais em, na sua defesa matar outras pessoas.
            O Reverendo, então, redigiu uma carta de próprio punho, dirigida a um engenheiro amigo seu que administrava a construção de importante Usina de Babaçu, no Maranhão, pedindo, desse trabalho aos três homens."
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            Padre Cícero penalizou-se com a argumentação dos visitantes que disseram humildemente, desejar viver em paz com suas famìlias.
            Os três arrependidos porém, não tiveram sorte.
            Quando almoçavam em dos subúrbios de Teresina, Piauí, foram reconhecidos por um ex cangaceiro que disfarçadamente, foi denunciá-los.
            Alguém os advertiu a tempo. Fugiram sem deixar pistas. Eram eles:
Virgolino Ferreira da Silva,o(Lampião) que na época ainda não tinha esse título, e os dois companheiros de bando.Daí, se não fosse essa denúncia eles poderiam ter sido aproveitados para outras atividades na vida.
Observação: Não há registro que prove tais afirmativas. Se Virgolino veio a Juazeiro falar com o Pe.Cícero antes,(1923) . Em (1926) quando se apresentou para compor as tropas do Batalhões Patrióticos contra o movimento da Coluna Prestes.Não há dúvida de que ele tinha admiração e respeito ao sacerdote.Padre Cícero que contava naquela época 82 anos, não gostou do imprevisto que tinha caído sobre ele, com a ausência de Dr. Floro teve que recebê-lo.
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Como vimos é possível que Virgolino tenha vindo antes a Juazeiro, como cidadão comum , romeiro disfaçado.O que se sabe é que ele não mandaria sua família para terra desconhecida.
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O saudoso amigo Aldenor Benevides foi acolhido com muito carinho e cuidados pela família de Renato Casimiro,na Rua São José, onde morou até seus últimos dias de vida, 96 anos se não me engano. Antes de prostár-se mandou chamar-me e disse:" escritora Vilma Maciel, assim como eu, você cuida dos livros com muito carinho e zelo, amamos à cultura, por isso receba este presente." Muitos livros de seu acervo.
É muito gratificante ter conhecido uma pessoa tão honesta, culta e inteligente como o Aldenor Benevides.
Vilma Maciel- (23/01/2016)


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016




COLUNA VILMA MACIEL
NAS ENTRELINHAS DA HISTÓRIA.
17/O1/2016-102 ANOS DE MORTE DE MARIA DE ARAÚJO.(24-O5-1863)-(17/01/1914).
            A história tem suas "histórias",muitos fatos interessantes passam despercebidos, envolvidos que ficam, escondidos pelo formalismo dos textos acadêmicos quilométricos. Por causa dessa diluição, regras e formas gramaticais, linguagem rebuscada, tais textos perdem-se às vezes os lances mais humanos acontecidos na vida de nossos heróis.
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            Nas entrelinhas da história é o resultado de uma garimpagem que faço nas páginas escritas pelos nossos memorialistas somado ao meu gosto e sincera vontade de contribuir, esclarecer, discutir e pesquisar.
HOJE ABORDO A QUESTÃO RELIGIOSA DE JUAZEIRO.
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O ROUBO DOS PANOS ENSANGUETADOS, QUE NA ÉPOCA FORAM GUARDADOS NO SACRÁRIO DA MATRIZ DO CRATO.
            O fenômeno do polêmico milagre ocorrido em Juazeiro em 1889 a 1891, o fato dito miraculoso vem sacralizar a ação sacerdotal do padre Cícero Romão Baptista no povoado. Ao ministrar a comunhão A beata Maria de Araújo, a hóstia se transforma em sangue. Este acontecimento iniciou acirrada polêmica religiosa envolvendo as classes dominantes e consequetemente, a subalterna. Esta última, se valendo da fé, constrói seu espaço sagrado. A igreja contesta, culminando com o interdito religioso mais longos da história católica no Brasil.
            Somente agora neste final de 2015 a igreja reconhece seu erro e se reconcilia com o padre Cícero.
                                                           ***
            Padre Cícero foi suspenso de exercer os sacramentos de sua missão sacerdotal. Foi instaurado um processo sobre os fatos extraordinários sucedidos a  Maria de Araújo.
            O Rvmo. padre foi obrigado a entregar a caixa de vidro existente na Capela de Nossa Senhora das Dores, no juazeiro,dentro, o conteúdo guardado serviria de provas a favor dos fatos.
            O sacerdote obediente às ordens da Diocese de Fortaleza, vinda de D. Joaquim (Bispo.) sob pena de ipso facto no caso de desobediência.
                                                           ***
            As relíquias ficaram guardadas  no Sacrário da Matriz do Crato. Panos ensanguentados que serviram para limpar o sangue na boca da beata e alguns pingos de sangue que mancharam o chão sagrado da igreja.
            De repente, desapareceu aquelas provas.
            Com o roubo da caixa contendo os lenços ensanguentados, D. Joaquim, Bispo de Fortaleza, iniciou especulações e acusações indevidas a José Marrocos mentor, advogado e amigo do padre Cícero. Também padres e pessoas da confiança do Sacerdote.
                                                           ***
            Esses fatos aqui narrados em sinopse, se nos apresentam coerentes e nos levou à pesquisar e tirar algumas dúvidas.
            Seriam esses os únicos paninhos restantes?
            Havia no momento da comunhão, beatas e zeladoras na Sacristia,
            será que alguém não se preocupou em salvar alguma prova?
            Graças a nossa vontade de desvendar essa questão, agendei uma visita com a profª. e escritora Generosa Alencar,na época já em idade avançada, porém posso afirmar a encontrei lúcida, prestativa, sábia. A historiadora foi testemunha  ocular da vida do padre Cícero. Foi uma das moças criadas, educadas e protegidas do Patriarca.Autora em parceria com Fátima Menezes do livro Homens e Fatos na História do Juazeiro-1989.
Com ela obtive informações importantíssimas. Por este tempo estávamos, a Célia Magalhães e eu coletando dados em pesquisa para nosso livro:NORDESTE MÍSTICO-IMPÉRIO DA FÉ, que publicamos no seguinte ano.
            A guardiã  cuja identidade é preservada, embora nos tenha dado o prazer e autorização a registro fotográfico, residia na rua Sta. Rosa aqui em Juazeiro do Norte.Nos mostrou com muito carinho  um dos lenços,de cambráia de linho branco(amarelado pelo tempo) e com o nome de Padre Cícero bordado em linha preta. o paninho estava manchado de sangue, como mostra as fotos. em anexo.Sua mãe confiou a ela este segredo e pediu sigilo. foi realmente emocionante  tocar no pano.Após o falecimento dela o pano deve ter ficado aos cuidados da Paróquia.

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fonte:
(Folha do Juazeiro, Juazeiro do Norte-25.11.1972.)
cit. Antes Q`M`esqueça-volume I - Renato Casimiro.
Padre Cícero Romão Baptista e os Fatos do Juazeiro.
Luitgarde Oliveira Cavalcante Barros( Organizadora.)
Vilma Maciel-20/01/2016

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