O Bom Humor da Vó Bernarda
Bem escreveu o poeta Monteiro Lombato:
"Quem mal lê,
Mal ouve,
Mal Fala,
Mal vê."
Portanto, vamos ler um pouco soube o humor de Vó Bernada e enriquecer essas quatro qualidades.
Vó Bernada é uma dessas velhinhas cheia de espiritualidade e virtudes. Linda por natureza. Aos 83 anos, dotada de espírito jovem dos vinte. Humor afiado, disposição de espírito, veia cômica, irônica na hora certa e alegre. Uma gracinha. Todos aprendemos a amá-la nos doze dias de internamento na enfermaria do Hospital Regional do Cariri.
Vó Bernada com uma fratura na mão. Engessado todo o braço, até as axilas soube manter a pouse. Magrinha, elegante, olhos inteligentes cheia de vaidade. Na tecnologia Vó não fica atrás, usa tão bem o celular que deixa qualquer adolescente de quinze com inveja. Pois não é que Vó sabe até usar o Ipad! Brinque!
No "O Breve", atendimento "breve" como sugere o próprio nome, nada é breve, nem cirurgia, nem deslocamento pois falta vagas, falta cirurgiões e sabe lá mais o que.
Ali, tudo se ouve e vê: gemidos, gritos e coisa inacreditáveis de dar calafrios nos nervos. Doenças de todo tipo. Pessoas de todas as classes. Desde o bandido ferido em assalto, sob custódia policial, ao mais nobre e honesto cidadão. Classe média, professores, comerciantes. Qualquer um sem distinção, sem Plano de Saúde. Na hora "H", corre para lá. É a lei da vida. Sem dinheiro, Saúde Pública, fazer o quê?
No leito 23, Vó Bernada mantinha a calma. Soro, injeções, medicamentos e boa alimentação. Sorte de ter conseguidos uma das "camas Vip", última tecnologia hospitalar. Projetada especialmente para várias funções, conectada a controle. Sorte mesmo, pois são desposta somente do lado direito da enfermaria "o Breve", do esquerdo coloca-se macas. Um terror ficar durante dias sobre elas.
- Vó Bernada, hora de ir ao banheiro, tomar banho!
Avisa a enfermeira de plantão.
- Nem morta! Com essa fila? Não vou. Imagine!
- Toda hora tem fila, fazer o quê?
- Ah! é... pois não dá! Sentar no sanitário e alguém batendo a porta. Não, não!
- Tá bem...daqui a pouco vamos levá-la tá? Pondera a enfermeira.
- Vô pensar no seu caso! rsrsrsrs...rsrsrs
Horas depois Vó passa para o banheiro, deixando um aviso verbal.
- Gente!!! Vou logo avisando: é minha vez! Banheiro interditado!!!
Mais tarde...
- Hora da injeção Vó.
Explica a profissional de saúde.
- Pimenta nos olhos dos outros é refresco!
Replica.
- Relaxa Vó, não dói.
- Não dói? Pois aplique em você! Meu bem...
Chegou o almoço.
- Leito 23?
- Aqui!
- Vó...seu almoço é dieta branda.
Explica a copeira.
- Nana, nina, não! Nem branda, nem brava! Eu quero é com sal e tudo que tem direito!
- Mas Vó!!! Não pode por causa de sua idade.
- O quê??? Que tem a idade com isso! Na minha casa como de tudo, "como manda o figurino". Ora essa é boa!
- Tá bem! Ponha seu sal, mas não exagere ok?
- Ok! Deixa comigo menina!
Doze dias de internamento, Vó perde a paciência e toma uma decisão.
- Parou! Parou! Enfermeira, quero tirar esse gesso me amordaçando. Tira...tira não quero mais, não espero mais...Fraturei só a mão e me engessaram até o braço. Meus dedos tão roxo, olha! Tira...tira. Chame o médico!
- Calma Vó! Calma! Vamos dar um jeito.
- Perdi a paciência! Mais não a vergonha, não quero sair daqui! Não vim pra morar! Ora essa! Não sou prisioneira com essas grades na cama, essa droga de soro; Sem poder acender meu cigarrinho. Vou fazer a cirurgia "Particular", chame o médico. Quero alta!
Todos riam quando Vó Bernada confeccionava com um lenço de papel um cigarro. Para representação artística, Vó fingia fumar seu desejado cigarrinho.
- Quero sair hoje! De hoje não passa...Quem manda nos filhos e nos netos sou "eu"!
- Tá bem mãe...Tá bem Vó!
Fala as acompanhantes gente fina.
No dia seguinte, os familiares de Vó Bernada resolveram levá-la. Enfrentariam os custos da cirurgia particular.
- Fui! Fui! Acenou Sorrindo Vó Bernada.
É isso ai irmãos! Quanto tempo perdido e nada resolvido. Mazelas da Saúde Pública.
Vilma Maciel
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