Padre Cicero

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Tela de Vilma Maciel

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O Bom Humor da Vó Bernarda
 Bem escreveu o poeta Monteiro Lombato:
  "Quem mal lê,
    Mal ouve,
    Mal Fala,
    Mal vê."
 Portanto, vamos ler um pouco soube o humor de Vó Bernada e enriquecer essas quatro qualidades.
 Vó Bernada é uma dessas velhinhas cheia de espiritualidade e virtudes. Linda por natureza. Aos 83 anos, dotada de espírito jovem dos vinte. Humor afiado, disposição de espírito, veia cômica, irônica na hora certa e alegre. Uma gracinha. Todos aprendemos a amá-la nos doze dias de internamento na enfermaria do Hospital Regional do Cariri.
 Vó Bernada com uma fratura na mão. Engessado todo o braço, até as axilas soube manter a pouse. Magrinha, elegante, olhos inteligentes cheia de vaidade. Na tecnologia Vó não fica atrás, usa tão bem o celular que deixa qualquer adolescente de quinze com inveja. Pois não é que Vó sabe até usar o Ipad! Brinque!
 No "O Breve", atendimento "breve" como sugere o próprio nome, nada é breve, nem cirurgia, nem deslocamento pois falta vagas, falta cirurgiões e sabe lá mais o que.
 Ali, tudo se ouve e vê: gemidos, gritos e coisa inacreditáveis de dar calafrios nos nervos. Doenças de todo tipo. Pessoas de todas as classes. Desde o bandido ferido em assalto, sob custódia policial, ao mais nobre e honesto cidadão. Classe média, professores, comerciantes. Qualquer um sem distinção, sem Plano de Saúde. Na hora "H", corre para lá. É a lei da vida. Sem dinheiro, Saúde Pública, fazer o quê?
 No leito 23, Vó Bernada mantinha a calma. Soro, injeções, medicamentos e boa alimentação. Sorte de ter conseguidos uma das "camas Vip", última tecnologia hospitalar. Projetada especialmente para várias funções, conectada a controle. Sorte mesmo, pois são desposta somente do lado direito da enfermaria "o Breve", do esquerdo coloca-se macas. Um terror ficar durante dias sobre elas.
 - Vó Bernada, hora de ir ao banheiro, tomar banho!
 Avisa a enfermeira de plantão.
 - Nem morta! Com essa fila? Não vou. Imagine!
 - Toda hora tem fila, fazer o quê?
 - Ah! é... pois não dá! Sentar no sanitário e alguém batendo a porta. Não, não!
 - Tá bem...daqui a pouco vamos levá-la tá? Pondera a enfermeira.
 - Vô pensar no seu caso! rsrsrsrs...rsrsrs
 Horas depois Vó passa para o banheiro, deixando um aviso verbal.
 - Gente!!! Vou logo avisando: é minha vez! Banheiro interditado!!!
 Mais tarde...
 - Hora da injeção Vó.
 Explica a profissional de saúde.
 - Pimenta nos olhos dos outros é refresco!
 Replica.
 - Relaxa Vó, não dói.
 - Não dói? Pois aplique em você! Meu bem...
 Chegou o almoço.
 - Leito 23?
 - Aqui!
 - Vó...seu almoço é dieta branda.
 Explica a copeira.
 - Nana, nina, não! Nem branda, nem brava! Eu quero é com sal e tudo que tem direito!
 - Mas Vó!!! Não pode por causa de sua idade.
 - O quê??? Que tem a idade com isso! Na minha casa como de tudo, "como manda o figurino". Ora essa é boa!
 - Tá bem! Ponha seu sal, mas não exagere ok?
 - Ok! Deixa comigo menina!
 Doze dias de internamento, Vó perde a paciência e toma uma decisão.
 - Parou! Parou! Enfermeira, quero tirar esse gesso me amordaçando. Tira...tira não quero mais, não espero mais...Fraturei só a mão e me engessaram até o braço. Meus dedos tão roxo, olha! Tira...tira. Chame o médico!
 - Calma Vó! Calma! Vamos dar um jeito.
 - Perdi a paciência! Mais não a vergonha, não quero sair daqui! Não vim pra morar! Ora essa! Não sou prisioneira com essas grades na cama, essa droga de soro; Sem poder acender meu cigarrinho. Vou fazer a cirurgia "Particular", chame o médico. Quero alta!
 Todos riam quando Vó Bernada confeccionava com um lenço de papel um cigarro. Para representação artística, Vó fingia fumar seu desejado cigarrinho.
 - Quero sair hoje! De hoje não passa...Quem manda nos filhos e nos netos sou "eu"!
 - Tá bem mãe...Tá bem Vó!
 Fala as acompanhantes gente fina.
 No dia seguinte, os familiares de Vó Bernada resolveram levá-la. Enfrentariam os custos da cirurgia particular.
 - Fui! Fui! Acenou Sorrindo Vó Bernada. 
 É isso ai irmãos! Quanto tempo perdido e nada resolvido. Mazelas da Saúde Pública.

Vilma Maciel



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